Profissionais das redes de proteção relatam “respiro necessário” em encontro promovido pelo MPSC no Alto Vale

“Certamente foi um respiro necessário. Fazia tempo que eu não parava para curtir um momento para mim. Hoje eu senti que alguém olhou para nós também. Muito obrigada”, declarou a assistente social Cricila Aparecida Hillesheim, de Presidente Getúlio.

Presidente Getúlio viveu, nesta quinta-feira (4/12), uma manhã marcada por emoção, escuta qualificada e sensação coletiva de acolhimento durante o 1º Encontro Intermunicipal das Redes de Proteção. A iniciativa do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), realizada pela 2ª Promotoria de Justiça da Comarca, reuniu profissionais dos municípios de Presidente Getúlio, Dona Emma, Witmarsum e Vitor Meireles.

Com o lema “Quem cuida também precisa ser cuidado”, o encontro propôs uma pausa necessária para que equipes que atuam diariamente com crianças, adolescentes e demais públicos vulneráveis pudessem compartilhar experiências, refletir sobre seus próprios limites e fortalecer a cooperação regional.

A Promotora de Justiça Cassilda Maria de Carvalho Santiago Dallagnolo, idealizadora da iniciativa, destacou que o encontro nasceu da necessidade de reconhecer e apoiar os profissionais que sustentam as políticas públicas na ponta. “Cuidar de quem cuida não é gentileza; é estratégia de fortalecimento das próprias redes de proteção. Profissionais sobrecarregados tendem a absorver dores que não são suas e, muitas vezes, não encontram espaços de escuta. Hoje abrimos esse espaço. Nosso compromisso é seguir construindo uma atuação integrada, humana e eficiente entre os municípios, para consolidar respostas rápidas e acolhedoras às demandas de vulnerabilidade social na região”, disse.

Palestra: inclusão socioprodutiva e o autocuidado de quem trabalha com vulnerabilidade
Convidada especial do encontro, a empreendedora social Bia Martins conduziu a palestra “Inclusão socioprodutiva – Cuidando de quem cuida”, apresentada com sensibilidade, firmeza e conexão com a realidade dos profissionais presentes. Com uma fala empática, Bia trouxe reflexões sobre saúde mental, autocuidado e valorização do próprio trabalho.

“Vocês carregam histórias difíceis todos os dias, e isso exige força emocional. Mas força não é ausência de cansaço; é a capacidade de pedir ajuda, de estabelecer limites e de lembrar que vocês também merecem cuidado. O profissional só consegue acolher bem quando também se sente acolhido. Nós temos compromisso com a criança que fomos lá atrás. O que vocês têm feito por ela?", indagou. 

Construção conjunta entre municípios
Além da palestra, as equipes participaram de um momento de discussão sobre desafios comuns, fluxos de atendimento, protocolos de proteção e estratégias de cooperação entre os quatro municípios. Houve também espaço para a partilha de boas práticas e para atividades de identificação de sentimentos, propósito e autoestima profissional, apontados como essenciais para a sustentabilidade das políticas públicas.

Durante os momentos de diálogo e partilha, depoimentos evidenciaram o impacto da iniciativa:

“A gente cuida tanto dos outros, mas hoje percebi que também precisamos ser lembrados. Saio mais leve”, relatou Lucas Albino, psicólogo educacional da rede de proteção de Witmarsum.

“Foi a primeira vez em muito tempo que me vi como parte de uma rede e não só como alguém que resolve problemas”, destacou a psicóloga do CRAS de Dona Emma, Paola Bortolatto. 

“Eu estava esgotada. Ouvir que isso também tem nome, que não é fraqueza, trouxe alívio”, completou Edenir Branger França, pedagoga da rede de proteção de Vitor Meireles.

A Promotora de Justiça reforçou que o encontro inaugura um movimento contínuo: “Este momento é o início de um movimento permanente. Cada município tem sua própria realidade, mas todos compartilham o mesmo propósito: proteger, cuidar e garantir direitos. A troca de hoje fortalece nosso compromisso com uma rede regional mais acolhedora e eficaz”.

Encerramento com propósito renovado
O encontro encerrou com um convite à continuidade das ações integradas e ao cuidado permanente com a saúde emocional de quem está na linha de frente das políticas de proteção. Os participantes deixaram o encontro com sensação de pertencimento e com a certeza de que o cuidado consigo mesmos impacta diretamente a qualidade do atendimento oferecido à população vulnerável do Alto Vale.

"Às vezes a gente esquece que também precisa ser cuidado. Saio daqui com a esperança renovada”, finalizou a assistente social Cricila Hillesheim.