MPSC busca aumento de pena para ré que matou o marido e escondeu o corpo no freezer em Lacerdópolis

Promotor de Justiça entende que a culpabilidade e a personalidade da ré não foram consideradas no cálculo da pena, nem as circunstâncias e consequências do crime. Ele também questiona o fato de a pena ter sido atenuada por confissão espontânea, afinal a mulher só admitiu que havia matado o marido depois que o corpo dele foi encontrado por amigos dentro do freezer. 

13.10.2025 17:46
Publicado em : 
13/10/25 08:46

Em agosto, a mulher que matou o marido asfixiado, escondeu o corpo no freezer de casa e ainda registrou o desaparecimento para confundir as autoridades, em Lacerdópolis, foi condenada a 20 anos e 24 dias de prisão por homicídio, ocultação de cadáver e falsidade ideológica. Porém, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) considerou a pena baixa e interpôs um recurso de apelação buscando a reforma da sentença. 

O Promotor de Justiça Rafael Baltazar Gomes dos Santos, que atuou no Tribunal do Júri realizado em Capinzal, entende que a culpabilidade e a personalidade da ré não foram consideradas no cálculo da pena, nem as circunstâncias e consequências do crime praticado por ela. O objetivo dele é que esses quesitos sejam revistos pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC). 

Promotor de Justiça Rafael Baltazar Gomes dos Santos no Tribunal do Júri Promotor de Justiça Rafael Baltazar Gomes dos Santos no Tribunal do Júri

“Ficou comprovado que a ré agiu de maneira premeditada, e o conjunto probatório evidencia traços de frieza e insensibilidade incomuns, uma vez que, após ceifar a vida do próprio cônjuge, ela manteve o corpo oculto em um freezer por aproximadamente cinco dias, enquanto simulava preocupação e participava das buscas, mobilizando familiares, vizinhos, bombeiros e autoridades policiais. Tal comportamento, sem dúvida, revela uma personalidade manipuladora, e isso deveria ter sido considerado na construção da sentença”, explica o membro do MPSC. 

Ainda sobre as consequências do crime, ele lembra que o caso ganhou projeção midiática de âmbito nacional, tornando-se objeto de ampla cobertura jornalística em razão da crueldade e da simulação da ré. “A exposição constante em veículos de imprensa intensificou a dor dos familiares, obrigando-os a reviver repetidamente a tragédia diante da opinião pública. Houve, ainda, abalo à ordem social e ao sentimento de segurança da comunidade local, que se viu impactada”, diz o Promotor de Justiça. 

Outro ponto questionado pelo Promotor de Justiça é o fato de a pena ter sido atenuada por confissão espontânea, afinal a mulher só admitiu que havia matado o marido depois que o corpo dele foi encontrado por amigos dentro do freezer. Ela ainda tentou argumentar que sofria violência para justificar o crime, mas essa narrativa foi totalmente desconstruída durante o Tribunal do Júri.

O Promotor de Justiça Diego Bertoldi também atuou no julgamento O Promotor de Justiça Diego Bertoldi também atuou no julgamento

O objetivo do MPSC é que todos esses elementos sejam revisados pelo TJSC e que a pena aumente. O recurso foi interposto no dia 18 de setembro e aguarda julgamento. Vale ressaltar que o escritório de advocacia que defende a ré quase foi afastado do caso após perder o prazo para apresentar seus argumentos e contrapontos — juridicamente chamados de contrarrazões. 

 

Relembre o caso 

A rotina do pequeno município de Lacerdópolis mudou para sempre em 19 de novembro de 2022, quando o corpo de um homem dado como desaparecido por cinco dias foi encontrado congelado dentro do freezer da própria casa, embaixo de alimentos e bebidas, com pés e mãos amarrados. O fato chocou os pouco mais de 2.200 moradores, que não viam um homicídio havia 30 anos e aguardavam ansiosos por notícias. 

No mesmo dia em que o corpo foi encontrado, a esposa publicou um vídeo nas redes sociais confessando o assassinato, sob a alegação de que sofria violência doméstica. Porém, as evidências apontaram para outra direção, afinal pessoas próximas relataram que eles conviviam harmoniosamente e mensagens trocadas pelo casal corroboraram o fato. 

Na época, a mulher foi denunciada pelo MPSC por homicídio qualificado pelo recurso que dificultou a defesa da vítima e por asfixia, pois teria dopado o marido com medicamentos de rotina para que ele dormisse, amarrado os pés e as mãos dele para que não se mexesse e colocado uma sacola plástica na cabeça para que parasse de respirar.

Familiares acompanharam o julgamento Familiares acompanharam o julgamento

Ela foi julgada e condenada pelo Tribunal do Júri da Comarca de Capinzal em agosto, em uma sessão de dois dias de duração. Os jurados acolheram integralmente a denúncia, mas o MPSC considerou a pena baixa e interpôs um recurso de apelação para que a sentença seja reformada. 

Fonte: 
Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC