No encontro Antonietas, jornalista Ana Paula Araújo defende educação e ampliação da rede de acolhimento para enfrentar violência contra a mulher
Trazer os homens para o centro da discussão, disseminar informação, ampliar redes de atendimento e acolhimento às mulheres, combater o machismo - especialmente entre jovens em ambientes virtuais -, reduzir desigualdades, fortalecer medidas protetivas e de fiscalização, envolver escolas e promover uma mudança de mentalidade na sociedade.
Essas foram algumas das principais iniciativas apontadas pela jornalista e escritora Ana Paula Araújo, da Rede Globo, durante o encontro Antonietas, promovido pela NSC na manhã desta quinta-feira (28/8) no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. O evento reuniu autoridades e especialistas para debater estratégias de prevenção e enfrentamento à violência contra a mulher no país.
O debate integrou a campanha Agosto Lilás e contou com o apoio do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC).
A Coordenadora-Geral do Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher em Razão do Gênero (NEAVID) do MPSC, Promotora de Justiça Chimelly Louise de Resenes Marcon, integrou as discussões e falou sobre as medidas de prevenção e proteção às mulheres em situação de violência.
Autora das obras "Abuso: a cultura do estupro no Brasil" e "Agressão: a escalada da violência doméstica no Brasil", a jornalista e escritora Ana Paula Araújo compartilhou a experiência no tema, tanto como repórter quanto como escritora. Segundo ela, esse debate deve estar presente no cotidiano da sociedade e o acesso à informação é o primeiro passo para promover mudanças efetivas.
Logo no início de sua fala, Ana Paula expressou preocupação com o fato de que, muitas vezes, a violência ocorre dentro do próprio lar, espaço que deveria representar segurança para a mulher.
"A violência é muito mais do que a violência física. A violência física a gente consegue identificar. Mas e aqueles casos todos da mulher que vive dentro de casa com medo? O lugar em que a mulher deveria se sentir mais segura, mais protegida, é na própria casa, e é justamente onde ela enfrenta maior medo, onde corre mais riscos, onde vive muitas vezes sendo controlada e agredida de maneiras mais sutis e que nem sequer percebe", lamentou.
A falta de entendimento dos homens sobre relacionamentos abusivos, acrescentou, é outro fator que tem prevalecido no quadro de violência. A jornalista também fez um alerta ao elencar o perfil do agressor: "É muito importante termos isso em mente, que o agressor não é um monstro, não é alguém totalmente fora da sociedade, alguém que tem algum tipo de doença, que se quebra. É um homem comum, normal, que está aí, no nosso dia a dia, do nosso lado, que trabalha com a gente, que às vezes é um ótimo profissional, um ótimo amigo, uma pessoa querida, mas que acha que tem o direito, que tem o poder, que pode dominar, agredir, que pode subjugar aquela mulher quando está dentro de um relacionamento".
Em seguida, defendeu a necessidade da luta contra o machismo, que "está presente também entre as novas gerações, em ambientes virtuais". Ana Paula acredita que falar sobre o assunto traz libertação às vítimas. Uma sugestão dada foi a de ampliar grupos reflexivos para homens.
"Dar voz às vítimas"
Durante o encontro, mediado pela jornalista Eveline Poncio, da NSC, houve um bate-papo em que também participaram a Promotora de Justiça Chimelly Louise de Resenes Marcon e a Juíza Coordenadora-Adjunta da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica (CEVID), do TJSC, Naiara Brancher.
Para Chimelly Marcon, o movimento Antonietas coloca no centro da discussão quem sempre deve estar, que é a vítima, sendo um estímulo ao Sistema de Justiça. "O evento, focado em dar voz para essa mulher que foi silenciada, em reconhecer a sua história de vida e a sua força e coragem em relação ao rompimento de ciclos diversos de violência, se torna um estímulo em relação aos equipamentos de Justiça e à confiança que é depositada em relação a todos os órgãos do sistema - Ministério Público, Poder Judiciário, Polícia Civil, Polícia Militar com o Rede Catarina", ilustrou.
A Coordenadora do NEAVID apontou, durante o debate, as ações que o MPSC desenvolve em defesa das vítimas e dos direitos fundamentais, como os projetos de ampliação dos núcleos de atendimento às vítimas pelo estado e as parcerias com o governo estadual e os municípios para criar e ampliar essas estruturas. Uma outra iniciativa do MPSC, acrescentou a Coordenadora, é a regionalização de projetos em Santa Catarina com foco nas realidades locais e nas especializações dos mecanismos de proteção.
"No Ministério Público, acreditamos muito que é a partir dessa articulação e desse diálogo em rede que conseguimos perceber algumas dificuldades e encontrar soluções conjuntas com a resposta de Estado muito mais eficiente e adequada", disse. Chimelly também destacou o trabalho relacionado às medidas protetivas, prisões e condenações contra agressores e autores de feminicídios, além dos canais de denúncia como 180 e 127 e o de emergência 190.
O Presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Desembargador Francisco Oliveira Neto, ao dar as boas-vindas aos participantes, afirmou que um terço do que é julgado em Santa Catarina são casos de violência doméstica, mas que, embora os números sejam expressivos, eles também demonstram que o trabalho do Sistema de Justiça está sendo concretizado. Conforme a Coordenadora-Adjunta da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica (CEVID), do TJSC, Naiara Brancher, 600 medidas protetivas são deferidas por semana em Santa Catarina.
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