11.08.2025

Palestra do NAVIT de Joinville reforça combate à violência contra a mulher em Santa Catarina

O evento fez parte das atividades do Agosto Lilás, mês de conscientização e combate à violência contra a mulher. Na oportunidade, o Núcleo de Atendimento a Vítimas de Crimes (NAVIT) de Joinville foi apresentado.
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Em meio à campanha Agosto Lilás, o Teatro Juarez Machado, em Joinville, foi palco da palestra "A mulher pode estar onde ela quiser: com segurança", ministrada pelas residentes do Núcleo de Atendimento a Vítimas de Crimes (NAVIT), do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), Jossana Mara Araújo e Maria Madalena Cortelaci. A atividade foi organizada pela Secretaria Municipal de Assistência Social. O evento, que reuniu autoridades, profissionais do Sistema de Justiça e o público em geral para discutir avanços da Lei Maria da Penha e suas atualizações mais recentes, aconteceu na segunda-feira (11/8).

O Agosto Lilás foi instituído pela Lei n. 14.448/2022. A escolha desse mês se deu pela sanção da Lei Maria da Penha, uma referência fundamental no enfrentamento da violência doméstica no Brasil, em 7 de agosto de 2006. A campanha visa sensibilizar e informar a população sobre a identificação de situações de violência e os canais disponíveis para denúncias, promovendo uma rede de apoio e proteção para as vítimas.

Na palestra das residentes do MPSC, foram abordadas as atualizações da Lei Maria da Penha, de 2023 até 2025, estatísticas sobre a violência doméstica no estado e as formas de atuação do NAVIT e sua importância para a sociedade. A atividade tratou, ainda, das articulações e campanhas desenvolvidas pelo MPSC e da importância da atuação em rede.

"A mulher pode estar onde ela quiser, com segurança. Trata-se de uma reflexão urgente e necessária sobre o direito das mulheres à liberdade, ao respeito e à proteção em todos os espaços que desejarem ocupar. Estar onde quiser não é uma ousadia; é um direito básico de ir e vir com dignidade. No entanto, esse direito ainda é condicionado ao medo, à vigilância e à autoproteção constante", disse Jossana Mara Araújo, residente de Serviço Social.

A residente do MPSC reforçou que "a presença da mulher em espaços públicos e privados deve ser livre de violência, controle e silenciamento. Isso exige combate direto ao assédio, à violência doméstica, ao feminicídio e à impunidade. Termos o direito de andar sem medo, praticar a nossa religiosidade sem que líderes religiosos se aproveitem, frequentar a escola, entre outras situações".

Durante a palestra, elas apresentaram dados sobre a violência contra a mulher e informaram que, em Santa Catarina, os números são alarmantes. Segundo o Observatório da Violência contra a Mulher, o estado registrou 30.234 medidas protetivas requeridas em 2024, número que já chega a 18.584 apenas entre janeiro e julho de 2025, conforme dados do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.

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As representantes do NAVIT de Joinville trataram também da evolução da Lei Maria da Penha nos últimos anos. Maria Madalena lembrou que "a lei foi criada em 2006 após a condenação do Brasil pela Organização dos Estados Americanos por negligência no caso de Maria da Penha Maia Fernandes. A lei passou por importantes atualizações entre 2023 e 2025".

Ela citou que, entre as alterações da norma, estão a permissão para concessão de medidas protetivas sem boletim de ocorrência, a garantia de que o depoimento da vítima tenha valor processual, o auxílio-aluguel para vítimas em situação de vulnerabilidade, com duração de até seis meses, prorrogável, e a prioridade no atendimento à mulher no SUS e no sistema de segurança pública.

"Ainda entre as mudanças legislativas estão o aumento, em 2024, da pena para o descumprimento de medidas protetivas e a tipificação do feminicídio como crime autônomo, com penas que podem chegar a 40 anos, o agravamento da pena para violência psicológica praticada com uso de inteligência artificial, entre outras", exemplificou.

A palestra também trouxe para o debate o papel das ferramentas digitais, como o aplicativo Maria da Penha Virtual, o Botão do Pânico e canais de denúncia via WhatsApp, que oferecem agilidade e sigilo às vítimas. Além disso, foram apresentados programas como os Grupos Reflexivos para Agressores e o Painel Nacional de Dados, que visam não apenas punir, mas também prevenir e educar.

Os casos de feminicídio também preocupam em Santa Catarina. Foram 51 ocorrências em 2024 e 29 nos primeiros sete meses de 2025, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública. Apesar da gravidade dos números, apenas 39% das vítimas registraram boletim de ocorrência, o que evidencia a necessidade de ampliar a conscientização e o acesso à informação.

O encerramento da palestra reforçou que a transformação vai além das leis. "A mulher pode estar onde ela quiser, com segurança, quando o mundo entende que ela não precisa ser valente para viver, mas livre". A frase resume o compromisso do núcleo e do MPSC com a construção de uma sociedade mais justa e segura para todas as mulheres. A mensagem final foi clara: não se cale. Denuncie. A luta por uma vida livre de violência é coletiva, institucional e cultural.

NAVIT

O NAVIT de Joinville tem se consolidado como uma importante estrutura de apoio às vítimas de violência na região Norte do estado. Oferece atendimento especializado e humanizado, com canais diretos como telefone, WhatsApp e e-mail, facilitando o acesso à ajuda às vítimas de violência. Funciona em uma sala no terceiro andar do Fórum da comarca, situado na avenida Hermann August Lepper, n. 980, e atende municípios de toda a região Norte catarinense. O núcleo oferece um espaço acolhedor, reservado e com profissionais do Serviço Social e do Direito.

As vítimas de crimes são acolhidas de forma humanizada e com escuta especializada. Após a análise dos casos de forma individualizada, são feitos os devidos encaminhamentos, seja para a solicitação de medidas protetivas de urgência, divórcio, partilha de bens, regularização de visitas dos filhos, seja para atendimento psicológico, CRAS, CREAS e Conselho Tutelar, para possível cadastro visando à concessão de benefícios assistenciais.

Além do NAVIT, o MPSC disponibiliza a Ouvidoria da Mulher pelo número 127. Há, ainda, os canais tradicionais, como 190 (Polícia Militar), 194 (Polícia Federal) e 180 (Central de Atendimento à Mulher).




Fonte: 
Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC - Correspondente regional em Joinville