15.01.2021

Iniciativa do MPSC no sistema socioeducativo serve de modelo para nova normativa aprovada pelo CNJ

Normativa aprovada pelo Conselho Nacional de Justiça determina que em todos os estados deve ser criada uma Central de Vagas para evitar a superlotação e otimizar a concessão de vagas nas unidades socioeducativas, e se baseou na articulação entre MPSC, TJSC e Poder Executivo que inovou ao implantar a iniciativa que conseguiu zerar a fila para internações em Santa Catarina.

O plenário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou novas normas para fortalecer o papel do Judiciário no tratamento adequado do sistema de Justiça juvenil e de execução de medidas socioeducativas. Entre elas, está a resolução que estabelece diretrizes para a criação e gestão de Centrais de Vagas baseada na experiência catarinense que conseguiu, por meio da articulação entre o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), o Tribunal de Justiça (TJSC) e o Governo do Estado, eliminar a fila de espera por uma vaga de internação nos Centros de Atendimento Socioeducativos Provisórios (CASEP) e nos Centros de Atendimento Socieoeducativos (CASE).

A resolução orienta a magistratura que, em qualquer decisão que envolva privação ou restrição de liberdade, caberá ao magistrado solicitar ao Poder Executivo a disponibilização de vaga em unidade socioeducativa. De acordo com o texto, esses estabelecimentos só poderão funcionar no limite máximo de vagas - para cada entrada em unidade de privação de liberdade deve haver, ao menos, uma saída. Segundo o texto aprovado em plenário na última sessão antes do recesso, em dezembro, a normativa é inspirada em boas práticas já em funcionamento no Paraná e em Santa Catarina.

Para o Coordenador do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude (CIJ) do MPSC, Promotor de Justiça João Luiz de Carvalho Botega, a resolução do CNJ "é o reconhecimento do êxito do projeto desenvolvido em Santa Catarina há mais de três anos, que, ao implantar a Central de Vagas, permitiu organizar o sistema, otimizar e dar racionalidade à concessão das vagas, priorizando inicialmente os casos mais graves, evitando a superlotação e garantindo também a regionalização, para que o adolescente permaneça o mais próximo de sua família".

Articulação entre MPSC, TJSC e Governo orienta a gestão das vagas e impacta nas políticas públicas

Botega destaca, também, o impacto da Central de Vagas nas políticas públicas da socioeducação, pois a iniciativa "nos permitiu, também, gerar dados e estatísticas que possibilitaram o avanço da política pública por meio dessas evidências. Com elas, podemos verificar onde estão as maiores necessidades do sistema, onde estamos acertando e errando, como por exemplo qual é a ocupação de cada unidade e em que regiões precisamos de mais vagas. Foi só a partir desse trabalho de gestão e governança, além de novos investimentos, que pudemos perceber a redução gradativa da fila de espera, até que ela fosse zerada e assim permanecesse até hoje".

Em Santa Catarina, o programa resultou em um painel de BI, disponível no Portal do Promotor e alimentado semanalmente, explica o Coordenador do CIJ. "É um projeto que exige parceria, muito trabalho e muita transparência de parte a parte. A partir desses painéis, temos cobrado do Estado mais investimentos no sistema socioeducativo."

Botega tem participado de reuniões com vários estados, como Rio Grande do Sul, Alagoas e Ceará, que estão interessados nessa proposta, que agora vai ser alçada a modelo nacional, pela resolução do CNJ.

Centrais de vagas

A resolução das centrais de vagas estabelece diretrizes e procedimentos a serem observados pelo Judiciário para a implementação e funcionamento do serviço para um melhor controle da ocupação de vagas a partir da gestão e da coordenação das vagas em unidades de internação, semiliberdade e internação provisória. Aprovada no processo nº 0010268-45.2020.2.00.0000, ela leva em conta os princípios da excepcionalidade e da brevidade da medida de internação estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e seu texto passou por consulta de atores externos, como o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Em seu voto, o presidente do CNJ, ministro Luiz Fux, aponta que a norma fortalece o papel do Poder Judiciário na construção e fomento de uma política pública fundada em evidências com importante diálogo interinstitucional com o Executivo. Dados de estudo do CNMP apontam que a taxa de lotação em unidades de internação provisória, por exemplo, chegam a 257%. "A Central de Vagas é uma iniciativa gerida pelo Poder Executivo. No entanto, para garantir sua efetividade deve ser implementada cooperativamente com o sistema de Justiça, tendo o Poder Judiciário papel central nesse processo."

Em agosto do ano passado, o Supremo Tribunal Federal, por decisão unânime, determinou que as unidades de internação de adolescentes em todo o país não ultrapassem a sua capacidade projetada. A decisão se deu no julgamento do habeas corpus coletivo 14398/ES, com relatoria do ministro Edson Fachin. O STF também decidiu pela criação de um observatório judicial para acompanhar os efeitos da deliberação, com dados sobre cumprimento das medidas e lotação das unidades. Em Santa Catarina, em razão da gestão de vagas instituída, não há superlotação nas unidades, nem mais fila de espera, de modo que a decisão não impactou a situação do Estado.




Fonte: 
Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC