Escutas que salvam: como o MPSC mudou o destino de uma família

Há mais de quatro décadas, atendimento acolhedor na Promotoria de Justiça transformou a trajetória de uma família.  

07.10.2025 17:45
Publicado em : 
07/10/25 08:45

"Eu sou um alcoólatra irrecuperável", disse o marido, na frente da Promotora. A resposta que ouviu há quase 42 anos, após se afirmar um homem dependente e sem reparação, mudou completamente a trajetória de Alfredo (nome fictício) e de sua família. O casal, que estava na iminência da separação quando procurou o Ministério Público para uma orientação, recentemente fez questão de se reencontrar com Heloísa Crescenti Abdalla Freire, hoje Procuradora de Justiça, e presenteá-la com uma placa inscrita com a Oração da Serenidade.   

Há quatro décadas, contam Promotores e Promotoras de Justiça, sem a ampla rede de atendimento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), eram eles e elas que prestavam ajuda para famílias em desespero. No caso da família de Alfredo, a então Promotora de Justiça Heloísa recomendou o comparecimento aos Alcoólicos Anônimos.     

"Foi em 10 de janeiro de 1984 na Promotoria de Justiça de Mafra. Fui com a minha esposa porque eu queria me separar", conta Alfredo, que lembra o dia exato do comparecimento ao Fórum. A Promotora de Justiça, recém-ingressa no Ministério Público de Santa Catarina, substituía o titular da comarca durante as férias. Antes de qualquer encaminhamento jurídico, no entanto, quis ouvir o motivo da separação. Então, respondeu com firmeza e acolhimento:   

"Alcoólatra você está dizendo que é. Agora, irrecuperável nós vamos ter que entender. Puxe a cadeira e sente". Heloísa buscou, com ajuda de uma servidora do Judiciário, um grupo dos Alcoólicos Anônimos na cidade e descobriu que havia um encontro naquele mesmo dia. Alfredo saiu, então, da Promotoria de Justiça com a determinação de Heloísa e foi direto para a irmandade. Mas a Promotora de Justiça não se deu por satisfeita. Passou a reservar horários fixos na agenda ministerial para ouvi-lo, duas vezes por semana, sempre que estivesse em Mafra.  

"Ela dizia para a secretária: ‘A partir das 16h30, não marque mais ninguém’", relembra Alfredo, que desde então permanece ativo na irmandade dos Alcoólicos Anônimos. "Eu precisava conversar, contar que estava mudando para melhor, e foi ela quem acendeu as lâmpadas", diz.   

Conforme Alfredo, a recuperação começou ali, na Promotoria de Justiça, com escuta acolhedora, orientação e encaminhamento. A esposa, Érica - nome fictício -, também reconhece o impacto do atendimento. "Foi difícil, mas ele conseguiu". Hoje, ela e o marido chamam Heloísa de "a doutora anjo da guarda".   

Quarenta e um anos depois, a Procuradora de Justiça ainda acompanha a trajetória do casal, que hoje tem uma neta ingressa no curso de Direito, e se emociona com a homenagem recebida. "Eles me deram uma placa, um azulejo muito bonito com a Oração da Serenidade inscrita. Fiz uma dedicatória bem bonita no livro sobre a história das mulheres do Ministério Público, publicado pelo nosso Memorial, e entreguei para eles, porque realmente foi um casal que realmente me marcou. Só isso já valeu a minha carreira", conclui.    

 

CAPS e CREAS   

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) oferecem serviços de saúde abertos para a comunidade. Uma equipe diversificada trabalha em conjunto para atender às necessidades de saúde mental das pessoas, incluindo aquelas que enfrentam desafios relacionados às necessidades decorrentes do uso prejudicial de álcool e outras drogas.   

  

Já o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) é a unidade pública da política de Assistência Social onde são atendidas famílias e pessoas que estão em situação de risco social ou que tiveram seus direitos violados. 

Fonte: 
Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC