"A nossa esperança são as crianças"
O ator Milton Gonçalves diz que aprendeu a importância da honestidade ainda menino, com a mãe, que o fazia devolver até mesmo "um toco de lápis" se ele chegasse em casa sem poder explicar a origem do "presente". "Eu não gostava, claro, mas só mais tarde aprendi como isso era importante". Pergunta: O que o motivou a se engajar na campanha "O que você tem a ver com a corrupção?"?
Milton Gonçalves: Eu acho que é porque ela é justa. Essa coisa da corrupção sempre me irritou um pouco. Obviamente, quando eu era menino, eu recebia uma balinha a mais... Mas, ao longo da vida, a gente vai tomando ciência e consciência de que a gente tem que praticar atos decentes. E um dia eu fui convidado pelo promotor Affonso Ghizzo, que me falou, conversou... e eu disse: eu tô dentro. Não precisa explicar muito. Por que essa coisa da corrupção, ela é muito abrangente, né. A gente sempre fala, e eu sempre falo: ela começa por cuspir na rua, jogar uma ponta de cigarro, até as grandes corrupções de roubos. Mas de roubos que ninguém contesta, ninguém, como sociedade, contesta.
O senhor diria que este é o grande mote desta campanha? Conscientizar as pessoas de que pequenos atos, que elas não tem consciência, são também corrupção? De que isso não está só no meio político, na administração pública?
Milton: Ela está na vida comum. Eu vou repetir: é a ponta de cigarro mesmo, é você jogar uma ponta.... Não tem uma coisa que mais me deixe indignado, no estado em que eu moro - eu moro no Rio de Janeiro - que é quando, às vezes, eu vejo o sujeito (que) tomou água, com aquele copo de plástico, e joga pela janela, ou a lata de cerveja... Se ele soubesse: primeiro, o tempo que demora para aquilo ser consumido pela natureza, não jogaria. Segundo: é falta de educação! E às vezes alguns carros oficiais jogam aquela papelada prá fora. Já vi isso. Já vi isso. E isso me incomoda profundamente porque a pessoa que faz isso, que joga pela janela sem perceber se tem alguém lá fora, é passível de cometer os mais violentos atos de corrupção.
E qual o peso de um artista famoso participar de uma campanha como essa?
Milton : Obviamente nós somos um meio de abertura, de diálogo, de papo, né... O ator, evidentemente, chama a atenção e de repente as pessoas param 10 minutos para ouvi-lo. Agora, se o discurso dele não for bom, não for coerente, não for pertinente a uma vida, não vai adiantar muito não.
A classe artística sempre se destacou por se engajar a lutas pela liberdade democrática, liberdade de expressão política...
Milton : Olha, primeiro uma consideração com relação à classe artística: ser ator não nos faz melhores ou piores. É uma profissão, é como ser um advogado, ser um dentista, ser um... sei lá, um psicólogo, ser um jornalista. É igualzinho, a gente exerce a nossa profissão. Com relação à manifestação política e ideológica, obviamente vários dos meus companheiros, a exemplo de outras categorias de trabalho, no tempo e no espaço, se insurgiram contra isso. Ou seja indo protestar na rua, dando seus depoimentos e tendo plena consciência daquilo que quer fazer. Por exemplo, o Tony Ramos: ele é político, eu não discuto a política dele. Porque? Porque o Toni Ramos é um cidadão absolutamente ético. O Toni Ramos é uma pessoa que é um irmão mais novo, eu diria assim, e assim como ele tem vários outros com menos nome, com menos exposição pública. Obviamente nós temos uma vantagem porque nós participamos dos sonhos das pessoas. Ao aparecer num filme, numa televisão ou no teatro nós personificamos, não é? Nós realizamos como personagens, às vezes, um sonho daquele que está nos prestigiando. E, naturalmente, se a realização desse personagem é pertinente àquele que está nos vendo, nós temos esse poder de hipnose. Mas eu diria que televisão não muda nada não, televisão apenas cria modismos que dois, três meses depois já sumiram. E eu fico muito assustado. E eu fiquei um pouco assustado porque no último personagem de longo curso que fiz, que era o deputado Romildo Rosa, ao mesmo tempo em que cada vez mais ele mostrava o seu lado ruim, o seu lado podre, de corrupção, mais ele era amado na rua. "Ah! Mas é porque você é um ator conhecido, eles sabem que você não está envolvido." Bom, se aconteceu isso, eu falhei na criação do meu personagem.
O senhor disse que ficou assustado?
Milton : O que me assustou um pouco foi esse carinho, esse afeto demonstrado pelo público. E de repente muda tudo isso, de repente é o cara que rouba, que acumula, que tergiversa, que polui, que muda, que faz licitações absolutamente desonestas, negocia com construtoras - que era a área dele - e de repente esse cara continua simpático. Porque o Romildo Rosa é uma coisa absolutamente execrável. Em todos os meios. Claro que ele tem o seu lado humano. E, na mesma novela, nada ficou explicado. Não existe o sujeito ir na porta de uma delegacia e se entregar: eu sou corrupto... Não existe! Então isso já vira lenda. Isso cria, já, uma porta que separa da fantasia. Não existe aquele cara que vai chorar lá! Mas tem uma coisa mais profunda e mais forte: o dinheiro que ele falou várias vezes que tinha no exterior. Ninguém falou sobre o dinheiro que ele tinha no exterior. E não era pouco não. Ele e a Donatela. A Donatela tinha 20 milhões de dólares. E o Romildo, devido às suas trapaças, devia ter muito mais. Como eu tenho um pouquinho mais de idade, eu fico me lembrando do Ademar de Barros. O Adhemar de Barros, que foi o governador do Estado de São Paulo, que todo mundo sabia que ele metia a mão. Mas que foi o primeiro a dizer: eu roubo mais faço... Tem outros que não tem o mesmo alcance dos que estão aí, também, trabalhando com esta questão do "roubo mas faço". Quer coisa pior que nos últimos dias as notícias sobre o Congresso, sobre a Câmara de Deputados... Isso é um vexame!
Como o senhor acredita que esta situação pode ser revertida?
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