11.02.2011

Promotores de Justiça conhecem projetos sociais

Como atividade do curso de vitaliciamento na carreira, 21 Promotores de Justiça subiram o Morro do Mont Serrat para conhecer os projetos sociais desenvolvidos pelo padre Vilson Groh em conjunto com ONGs.

"A vida não é fácil lá", resumiu o adolescente de 17 anos que cresceu na favela Chico Mendes, o primeiro a contar sua história aos 21 Promotores de Justiça que ingressaram na carreira em agosto passado e que, na tarde do dia 11 de fevereiro, subiram o Morro do Mont Serrat acompanhados do Diretor do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF) do MPSC, Gustavo Viviani de Souza.
Eles foram conhecer os projetos sociais desenvolvidos pelo padre Vilson Groh em conjunto com quatro organizações não-governamentais que atuam com crianças e adolescentes de comunidades margeadas pela violência na Grande Florianópolis e outras cidades do Estado. A iniciativa fez parte do terceiro módulo do curso de vitaliciamento na carreira, com o tema "Conselhos e Movimentos Sociais".
O garoto acertou ao encurtar os problemas numa frase. Não eram as dificuldades que interessavam no encontro, mas o grande trabalho social que hoje é desenvolvido em rede, e como ele está mudando a história de comunidades carentes. O padre Vilson Groh, sempre uma referência como protagonista, cedeu espaço na condução da conversa a outros personagens nem tão conhecidos, mas pessoas que também escolheram como profissão ajudar famílias a ganhar dignidade e uma vida melhor por meio da educação, alimentação de qualidade, moradia, saúde, paz e renda obtida com trabalho e honestidade.
Cinco profissionais que coordenam centros sociais em diversas comunidades apresentaram aos visitantes seus projetos, o seu público e suas conquistas. "As pessoas que trabalham conosco são todas graduadas, são educadores em sua maioria. E à medida que os adolescentes vão se formando conosco, vamos abrindo espaço para que possam ajudar a gerenciar as entidades. Isso é extremamente significativo nas comunidades, pois são jovens que se tornam referência", interveio em determinado momento Vilson Groh, para pontuar o profissionalismo que hoje marca esses movimentos. "Mas nada caiu do céu. Isso tudo é fruto de muitos homens e mulheres que trabalharam muito, que iniciaram seus processos de organização de forma voluntária e com poucos recursos", ressalvou logo.
Ao final da exposição de cada representante das entidades, os Promotores ouviram o relato de adolescentes que frequentaram um dos projetos apresentados. Alguns nunca se envolveram com violência e o crime porque chegaram à adolescência frequentando um dos centros sociais - o atendimento, em geral, é para crianças e adolescentesde 6 a 14 anos. Outros foram resgatados do consumo de drogas, da criminalidade e de centros de internação.
"Seria muito difícil eu ter, hoje, o sonho de fazer uma faculdade de Direito se não tivesse meus oito anos de formação no projeto do Mont Serrat. Eu sei que muitas oportunidades eu tive graças a esse centro social", contou uma menina de 17 anos e moradora do morro, que agora trabalha como monitora de um grupo de jovens e conclui o ensino médio com bolsa de estudos numa escola particular. Outro menino de 17 anos, ex-usuário de drogas e ex-envolvido com o tráfico, explicou como o projeto Aroeira mudou seu caminho depois de ser até internado no São Lucas, por ter feito o que chamou de "muita coisa ruim".
E os recursos dessas entidades, hoje mais abundantes, ainda são poucos. Mas servem para muito. Um dado que chamou a atenção de quem ouviu os profissionais foi o reduzido orçamento dos projetos e o grande número de pessoas beneficiadas por eles. E, como explicou Patrícia Cunha Kinchescki, Coordenadora-Geral do Centro de Educação e Evangelização Popular (Cedep) da comunidade do Monte Cristo, na Capital: "Trabalhamos com muita economia, mas com muita qualidade. Com educação e alimentação de qualidade", frisou.
Esse Cedep atende 320 crianças e adolescentes que frequentam aulas no turno oposto ao da escola, em programas educacionais e de alimentação adequada. Gastou para isso cerca de R$ 400 mil no ano passado, incluindo o pagamento de professores. São R$ 1.250,00 por criança ao ano, ou R$ 104,16 por criança ao mês. Parte desse orçamento é bancado hoje pelo Município, e parte resulta da doação de várias empresas.

Iniciativa estimula nova forma de atuação do Promotor de Justiça
O Promotor Gustavo Viviani de Souza explica que o CEAF programou a atividade para que a turma de 21 Promotores pudesse vivenciar exemplos de transformação social, ideia fomentada no terceiro módulo do curso de vitaliciamento na carreira. "A proposta é estimular uma nova forma de atuação do Ministério Público", complementa.
O encontro com os coordenadores de projetos sociais ocorreu na capela Nossa Senhora do Mont Serrat, onde funciona o Centro Cultural Escrava Anastácia e o Instituto Padre Vilson Groh, ambos mantidos pelo sacerdote - há 30 anos são praticados trabalhos sociais ali e, há 15 anos, funciona o Centro Cultural. Ali os Promotores conheceram a filosofia de trabalho de Groh: agregar redes sociais para potencializar pessoas e dar a elas ferramentas de trabalho.
"Nosso papel não é fazer o papel do Estado, é fomentar condições para fazer funcionar a rede que já existe. Se nosso trabalho não faz integração com os Conselhos já existentes, temos uma fissura, falta uma costura política na participação das comunidades", afirmou Vilson Groh. Para ele, é importante que o Ministério Público pense uma forma de trabalhar com essas redes de atendimento social e como fomentar a participação das pessoas das comunidades. "No Morro do Mocotó os traficantes foram retirados, mas as crianças estão lá. Qual a estrutura que vamos dar a esses filhos e filhas? Não basta só a polícia retirar o traficante", exemplificou. No Mocotó há 387 famílias com renda de zero a um salário mínimo e a maioria são jovens, segundo pesquisa de 2010.
A opinião de quem participou:
"Foi uma ótima experiência, e mais importante ainda os depoimentos dos adolescentes. Às vezes a gente não sabe como foi a vida do adolescente, quais as oportunidades que ele teve ou não".
Caroline Cabral, Promotora de Justiça na Comarca de Maravilha
"Foi bem produtivo porque o encontro aproximou a gente da realidade das bases sociais. E a partir do conhecimento dos projetos desenvolvidos na Grande Florianópolis podemos fomentar sua produção em nossas Comarcas".
Guilherme Schmitt, Promotor de Justiça na Comarca de Campo Erê
"O evento conseguiu plantar uma semente de motivação, de renovação. É uma realidade diferente, uma dificuldade que não conhecíamos a desses adolescentes. Todos nós temos alguém próximo para se espelhar e por isso nossos sonhos sempre foram maiores do que os deles, que são muito mais limitados".
Gilberto Assink de Souza, Promotor de Justiça na Comarca de Curitibanos
"Achei bastante interessante, acho que essas comunidades têm uma grande expectativa em relação ao Ministério Público. O que fica para mim é a articulação. Não adianta o MP querer fazer TAC sozinho, tem que se aproximar dos movimentos sociais e até orientar e mostrar o caminho".
Guilherme Brodbeck, Promotor de Justiça na Comarca de São Miguel do Oeste
Fonte: 
Coordenadoria de Comunicação Social