Contestado: um conflito de muitas faces
O livro "100 anos do Contestado: memória, história e patrimônio" faz uma reflexão dos fatos que marcaram uma disputa por 40 mil km² de terras entre a divisa dos Estados de Santa Catarina e Paraná. O conflito durou quatro anos e matou cerca de 9 mil pessoas, na sua maioria caboclos, mas as consequências desse fato histórico são percebidas até hoje.
Considerada a 3ª maior revolta camponesa do mundo, o Contestado é uma história com diversos atores que envolveu questões jurídicas de posse das terras, mesmo antes de iniciar o conflito armado, em 1912. O tema foi detalhadamente esmiuçado em 20 artigos, que fazem uma interlocução entre a interiorização e nacionalização do tema, abrangendo desde o contexto da época até questões de formação social e religiosidade popular.
O dossiê apresenta faces do Contestado, que mesmo após um século, ainda não foram descobertas. Na obra, os autores analisam os fatos antecedentes de indefinições na posse da região contestada, uma zona de clima propício e terras férteis para a agricultura, marcada pela rota dos tropeiros que levavam mercadorias do Rio Grande do Sul a São Paulo. Durante anos, foi o refúgio de exilados da Revolução Federalista, que se dedicavam ao plantio de erva mate e à extração de madeira.
"100 anos do Contestado: memória, história e patrimônio" Lançamento: 9 de junho Horário: 19 horas Local: Palácio Cruz e Sousa, em Florianópolis Outras atrações: Apresentação cultural do folclorista Vicente Telles, exposição de telas dos pintores catarinenses Hassis e Zumblick e lançamento do livro "O Eremita das Américas: a odisséia de um peregrino italiano no século XIX", de Alexandre Karsburg |
Além do labor, os sertanejos que lá viviam peregrinavam com seu mentor José Maria. Uma identidade que na verdade pertencia a três homens. O primeiro, José Maria de Agostini, um monge italiano, que iniciou sua peregrinação no Brasil. Depois um grego, chamado Anastas Marcaf, mas que se auto intitulava João Maria de Jesus. Por último, o único dos três que participou do conflito armado, José Maria de Santo Agostinho.
O registro também estabelece uma comparação à Guerra de Canudos. Apesar de ambas terem um caráter messiânico - uma com José Maria e outra com Antônio Conselheiro - e de serem insurgências populares geradas por uma crise econômica, o estudo contido no livro mostra a diferença na participação de jagunços e caboclos, além da atuação do Exército brasileiro em cada caso.
A região que à época era considerada um "sertão inculto" pelo abandono do Estado permanece até hoje com dificuldades de se desenvolver. Os autores discorrem algumas páginas sobre o subdesenvolvimento da região contestada representada atualmente pelas cidades de Lages, Curitibanos, Calmón, Itaiópolis, Campos Novos, entre outras, que possuem os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) e as maiores taxas de pobreza do Estado.
Contexto histórico
O início do século XX marcou a instauração da República no Brasil. As mudanças arquitetônicas davam-se em torno do movimento constante de europeização do país. Entretanto, isso não se refletia na área da Guerra do Contestado, que possuía uma atividade agrícola muito forte e população miserável. O único vestígio de modernização foi a construção de uma madeireira na região.
Esse campo aberto ao investimento interessou ao capital estrangeiro. A companhia ferroviária estadunidense Brazil Railway viu uma possibilidade de desenvolvimento econômico criando uma estrada que levaria o Centro ao Sul do Brasil. O contrato firmado, além de conferir diversas concessões e empréstimos do Governo Federal, desalojaria cerca de 48 mil pessoas. Os moradores, movidos por diversos fatores, entre eles crise econômica - causada pela escassez de alimentos - e pelo messianismo, enfrentaram o Exército brasileiro, as Polícias paranaense e catarinense e partiram para o conflito armado que se concluiu em um massacre sem precedentes.
A obra foi escrita por 20 autores, entre eles historiadores, pesquisadores acadêmicos, como José Murilo de Carvalho, membro da Academia Brasileira de Letras, e Margarida Moura, professora da USP, além de representantes políticos do Estado. A ideia surgiu após o sucesso dos eventos "100 anos da Guerra do Contestado", em agosto de 2012, organizado pelo Memorial do MPSC, e "Contestado: Leituras e Significados", seminário organizado pelo Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e pelo Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, em setembro do mesmo ano.
A leitura provoca a reflexão sobre os impactos de uma guerra que marcou a história de Santa Catarina e do Brasil.
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