Especialistas da América Latina e da Europa passaram dois dias na sede do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), em Florianópolis, debatendo com Promotores e Procuradores de Justiça de todo o país a investigação da tortura no Brasil. O evento "Investigação da tortura no Brasil: implantação do Protocolo de Istambul pelo MP" faz parte de uma ação do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) que tem como meta efetivar as prescrições do Protocolo de Istambul para investigação relacionados a tortura, tratamento degradante e maus tratos pelo Ministério Público brasileiro. O evento começou na quinta e terminou nesta sexta-feira (23/11) e contou com a participação de 50 membros do Ministério Público.
De acordo com o Presidente da Comissão do Sistema Prisional, Controle Externo da Atividade Policial e Segurança Pública do CNMP, Promotor de Justiça Dermeval Farias, o Ministério Público brasileiro exerce um papel fundamental no combate à tortura, compatível com o enfrentamento à criminalidade e com a defesa dos direitos fundamentais. Segundo o Presidente, "eventos como esse auxiliam Promotores e Procuradores da República a compreenderem melhor o fenômeno, alçarem técnicas de investigação e documentação mais eficazes, capacitando a instituição para uma persecução mais robusta da tortura".
Para o Procurador-Geral de Justiça, Sandro José Neis, esse é um tema muito caro para o Ministério Público brasileiro. "É muito bom termos um Conselho Nacional que se preocupa em gerar
discussões que promovam o entendimento, a unidade e a discussão de estratégias
para o enfrentamento de questões como essa, de extrema relevância. Estão aqui
reunidos os maiores especialistas do mundo para falar desse problema: o combate
à tortura. Presenciamos hoje estratégias inéditas no cenário brasileiro", afirmou Neis.
A necessidade de se debater a investigação da tortura está justamente na fragilidade da legislação brasileira e mundial em tipificar e identificar esse crime. A palestra de abertura do evento foi promovida pelo médico espanhol Pau Pérez Sales, psiquiatra. Durante sua fala, Sales questionou "quantos etapas são fundamentais para se configurar uma tortura? Qual é o limite para a caracterização de uma agressão severa"?
A pergunta existe porque a expressão "agressão severa" está na Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradante da ONU, do qual o Brasil é signatário. O documento usado por várias nações descreve tortura como uma prática intencional, que envolva sofrimento físico ou psicológico severo; levada a efeito por um agente público no exercício de sua função.